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Acessibilidade digital: empresas do Brasil começam a investir para atender a todos os usuários

30/09/2022

Acessibilidade digital: empresas do Brasil começam a investir para atender a todos os usuários

O mercado começa a despertar para a necessidade de investir em acessibilidade digital e atender a todos os usuários de seus sites e aplicativos.

De um lado, parte das empresas busca capacitar suas próprias equipes e criar grupos específicos para tratar do tema. Do outro, consultorias se especializam em diagnosticar e corrigir problemas, criando oportunidades de trabalho para pessoas com deficiência visual.

Esse é um público que ainda vem sendo mal atendido pelas companhias que estão na internet. Segundo pesquisa do Movimento Web para Todos em parceria com a BigDataCorpi, apenas 0,46% dos sites ativos no Brasil estão adequados em todos os parâmetros de acessibilidade digital.

O índice é ainda mais baixo do que o registrado em 2021, quando 0,89% tiveram sucesso. Foram considerados 22 milhões de sites.

A, idealizadora do Web Para Todos, Simone Freire, atribui a piora no resultado ao aumento no número de sites de pequeno porte criados durante a pandemia. Essas páginas surgiram como resposta ao distanciamento social e ao fechamento das lojas físicas, mas seus responsáveis ainda não tiveram contato com o tema acessibilidade.

Os erros identificados são problemas como não permitir uma navegação sem o uso do mouse por pessoas cegas ou com dificuldade de manuseio e a falta da inclusão de textos nos botões que permitem receber a informação via softwares leitores de tela. A avaliação considera ainda se o site possui descrição de imagens.

Segundo Freire, tornar uma página mais acessível para pessoas com deficiência cria uma melhor navegação a todos os públicos, inclusive pessoas idosas ou com baixo letramento. São sites mais simples e fáceis para os usuários.

O aprimoramento da acessibilidade também é levado em consideração pelos buscadores na hora de definir qual página o usuário visualizará primeiro, o que pode ser mais um incentivo para dar atenção ao tema, diz Freire.

No site de venda de itens artesanais Elo7, a preocupação com acessibilidade partiu dos próprios funcionários, conta o presidente da empresa, Erich Egert.

Segundo o executivo, ao ser apresentada ao tema, a direção da companhia decidiu deixar que funcionários dedicassem parte do seu tempo ao estudo das diretrizes para garantir acessibilidade digital.

Egert afirma que, sem gastar muito, foi possível obter bons resultados usando conteúdos que estão disponíveis online. "Eles mostraram que é possível, com esforço, fazer esse trabalho, e não é tão complicado assim".

A manutenção da qualidade da acessibilidade também é testada pela equipe, diz o executivo. "De tempos em tempos, eles desligam os monitores para testar se conseguem navegar nos sites."

O Elo7 ficou na terceira colocação em ranking da consultoria Yaman, que indica as melhores lojas virtuais com operação no Brasil. Está atrás apenas de Apple e Samsung.

Também no comércio eletrônico, o Mercado Livre decidiu criar uma área específica para cuidar de acessibilidade neste ano, conta a líder de diversidade e inclusão para América Latina na empresa, Ângela Faria.

Segundo a executiva, o novo grupo é responsável por identificar falhas em outros projetos da empresa, sistematizar procedimentos para evitar erros e capacitar os demais profissionais da companhia. "Queremos garantir que nossas próximas ações sejam acessíveis desde o início".

Já as consultorias de tecnologia perceberam que a acessibilidade trazia uma oportunidade de mercado.

As empresas NTT Data e Yamãn, por exemplo, participam do planejamento de sites e apps junto de grandes bancos e varejistas para aperfeiçoar sua navegação. Também realizam testes para diagnosticar problemas em plataformas já existentes.

O trabalho é sempre realizado por duplas, formadas por uma pessoa que enxerga e outra com deficiência visual. A companhia tem 15 funcionários cegos ou com baixa visão na atividade.

A líder de acessibilidade da Yaman, Murilo Bolonhini Cita, diz que cada tela de um aplicativo passa por 30 validações. Parte delas é feita por quem não enxerga e tem a mesma experiência do usuário com deficiência e parte pelo consultor que vê e pode avaliar itens como qualidade das fontes usadas e do contraste entre as cores escolhidas.

A NTT Data afirma ter mais de 50 consultores com deficiência.

A gerente de qualidade da empresa, Thais Cassano Sibim, diz que a busca pelo serviço cresceu neste ano. Segundo ela, o mercado ainda não chegou à maturidade em relação a esse tema, mas a busca por ampliar a diversidade em seus quadros tem dado força a questões ligadas à inclusão e à acessibilidade.

O consultor da NTT Data Vinícius Ricieri, que tem deficiência visual, diz que se sente motivado ao trabalhar para tornar disponíveis a todos serviços que há poucos anos ainda não eram acessíveis. "Não existe mais aquele negócio de que o público com deficiência é pequeno e não vale investir nele", afirma.

A consultora na NTT Data, Jéssica Pereira, também diz ser gratificante ver outras pessoas cegas conseguindo usar um produto que passou por seu trabalho para ser acessível. E reforça que, quando alguém com deficiência visual consegue usar com facilidade um aplicativo ou site, é provável que a pessoa indique o produto para muitos amigos com a mesma deficiência.

Dicas básicas de acessibilidade digital
Imagens: Descreva para que possam ser entendidas por quem tem deficiência visual. É preciso que textos presentes em fotos sejam apresentados fora delas, porque os softwares leitores de tela não captam informações em imagens

Fontes: Evite letras cursivas ou que possam gerar dificuldade de leitura. Prefira cores de letra e fundo de tela que facilitem a visualização por quem tem baixa visão

Navegação: Pessoas com deficiência visual ou dificuldade motora podem navegar no computador apenas pelo teclado, usando a tecla Tab e as setas. Não crie botões que só possam ser acessados a partir do mouse

Vídeos: Legendas e interpretação em Libras tornam o conteúdo acessível tanto para pessoas com deficiência auditiva como para quem se comunica por sinais

Tradução: É recomendável que os sites tenham um avatar que traduza seus textos para Língua Brasileira de Sinais

Silêncio: Evite vídeos que começam automaticamente quando a página carrega e coloque em destaque o botão para pausar

Links: Evite criar com expressões como "clique aqui" ou apenas a própria palavra como link. Em vez disso, prefira um texto que indique o que a pessoa irá encontrar ao clicar

Botões: É comum existir botões cuja função está escrita em sua própria imagem ou é representada por um desenho, o que não é suficiente para quem usa leitores de tela. É preciso criar um texto alternativo que possa ser captado por esses softwares

Cabeçalhos: Pessoas com deficiência podem usar atalhos de teclado para mover rapidamente de um cabeçalho a outro, por isso eles precisam ser criados seguindo uma hierarquia coerente

Testes: Serviços como o Asesweb, do governo brasileiro, e Access Monitor, de Portugal, além da extensão Lighthouse para o Google Chrome, permitem uma avaliação rápida sobre o nível de acessibilidade e a qualidade do código com o qual a página foi desenvolvida

Mais informações: O consórcio internacional W3C, que determina padrões para a internet, criou a WCAG, conjunto de diretrizes para oferecer a acessibilidade na web

Fonte: Contábeis

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